terça-feira, 4 de setembro de 2012

Jornada

"Estou no meio do caminho e as pernas pedem descanso.
Os pés doem, sujos de terra, exaustos.
Caminhei tanto depois que nos conhecemos. Mal vejo a menina torta que eu era naquele dia quente de fevereiro.
Era mais gostoso quando você andava comigo. Mesmo à frente, você me estimulava a dar passadas mais largas, aumentando o ritmo para que chegássemos mais cedo.
De repente pisquei os olhos e cadê você?
Estou no meio do caminho e daqui nem dá pra ver o meu destino. Parecia mais simples quando éramos dois rumo ao desconhecido.
Andei tanto e já não há nenhum estímulo. Continuo porque estou no meio do caminho e não dá para parar aqui, nessa maldita estrada de terra onde não passa ninguém.
Será que você se escondeu para me observar ou cansou da minha lentidão e foi na frente? Eu nunca te deixaria para trás, amor. Vem me buscar?
A cada cem passos eu paro e olho ao redor. Não tem cabimento voltar, mas dói tanto seguir em frente. Dói tanto. Doem as pernas, os pés, o âmago, o peito. Doeria meu coração se eu ficasse à vontade para escrever como os velhos poetas.
A cada quilômetro vencido eu penso em você. Ao menos não o vi indo embora. É provável que tentasse alcançá-lo e sabemos que eu jamais conseguiria.
Lembra quando começamos essa jornada? Eu era apenas uma menina mal acostumada e você corria para que eu o alcançasse. Só alcançava porque você deixava.
Sem você a estrada parece mais esburacada, mais tortuosa, mais difícil. Será que a gente se encontra lá na frente?"
 

Agora... o que eu faço?

Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica, psicanálise, drogas, acupuntura, suicídio, ioga, dança, natação, cooper, astrologia, patins, marxismo, candomblé, boate gay, ecologia... sobrou só esse nó no peito, agora o que faço?

Caio Fernando Abreu